Agora que passou o tempo eleitoral, eu vou contar.
Eu nunca escondi a minha posição, meus contras e meus à favores, e só não contei a história antes para evitar encheção de saco. E também porque, sinceramente, tinha me esquecido.
Não quero discursar sobre minha opinião, não agora, que ja passou essa turbulenta fase democrática. Turbulência que, aliás, derrubou o avião da classe média paulistana (adoraria que todos pudessem ver a minha face de satisfação).
Acontece que todo dia eu vou até a estação de metrô São Joaquim, ali na avenida da Liberdade. Para falar a verdade, eu ia, agora estou finalmente aproveitando o meu repouso, o meu descanso, a minha vagabundagem. Hoje por exemplo, segunda feira, sete e quinze da noite, e vocês não imaginam como está gostoso ver o sol se por em moema, acompanhado da minha cervejinha. Ai que preguiça, Macunaíma.
Mas era outubro, e eu ainda estava envolvido na labuta diária, e desci, naquela manhã de outubro, na estação São Joaquim. Bem na porta, algumas senhoras devidamente uniformizadas entregavam panfletinhos, e na minha inevitável sonolência, estiquei os braços para apanhar um. Eu morro de pena de recusar esses panfletinhos. Mas os meus olhos foram rápidos, meus reflexos quase imediatos, e eu tive tempo de ler no avental azul da velhinha que me entregava o santinho: Serra 45.
Como que num impulso, digno do faroeste, eu recolhi a minha mão e dei um grito que não disse nada. Coitada, a velhinha se assustou, e eu me arrependi imediatamente (apesar de estar rindo por dentro, na minha maldade interior). Tratei de explicar, com simpatia, com paciência.
- Oh minha senhora, me desculpa, mas eu não vou querer não.
Ela ameaçou uma cara de indiferença, mas me bateu curiosidade, e eu tive tempo de perguntar:
- A senhora vota em quem?
Daí foi pega de surpresa, e ficou gaguejando a resposta:
- Eu... bem... ué... eu?... oras...!
- Vai votar no Serra?
A pele maltratada dava sinais de uma vida difícil, uma vida ralada, suada. Eu não tinha dúvidas, mas queria ouvir da boca dela. E ela gaguejou mais ainda:
- Eu?... veja bem... hãn... - Mas não respondia. Eu lancei direto e reto.
- Eu não vou! - Então ela respondeu na lata, e provou o que eu ja sabia, o que eu entendo, aprovo, o que eu tento explicar para meus queridos tucanos. Ela respondeu de boca cheia:
- Ah! Eu também não!
E eu desci sorrindo até a rua do Hsbc, que até hoje eu não sei o nome.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
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