sábado, 16 de outubro de 2010

Inventando lembraças.

Ela apertou o meu braço com força. Ela ria muito, batalhando para não rir, e ainda assim acabando-se em gargalhadas fartas, longas, daquelas que esvaziam os pulmões e se encerram com um longo suspiro de angustiada alegria. A angustia de quem ri das cócegas forçadas. Mas naquela hora não eram cócegas. Eu pisei com força no acelerador do carro, em ponto morto, só para fazer barulho. Só para assustar. E ela assustou mesmo, mas ria aquele riso de quem confia no outro apesar da cagada que está se fazendo.
Eram 3 da manhã, a avenida Brasil estava vazia, descontados alguns indigentes que fumavam crack numa rodinha, como um encontro de amigos, como fumar socialmente. O carro nem ia rapido, mas sem nenhum outro carro para servir de parâmetro, os postes que ficavam para trás davam a impressão de estarmos dentro duma nave. Ai que eu perguntei, enquanto ela acendia um careta. Sabe cantar o hino? Ela fez que sim com a cabeça. Eu abri o vidro do lado dela. Então canta.
Não hesitou nem um segundo.
Ela cantou o hino.
E eu fui em direção a rua Augusta para aborrecer umas prostitutas.

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