Eu a perdi por besteira. Os meus planos, meus pobres enganos, por besteira.
Não que tenha sido maldade dela, não foi. Foi só uma besteira.
Não me importa que eu tenha tido os meus gastos nesse tempo tão breve, pelo contrário! Eu só fico com um remorso prévio, por todos os gastos que eu queria ter no futuro. Os restaurantes, que eu planejei leva-la, quando minha mesada se acumulasse no suficiente. Nos parques que eu me lembrei que ia quando criança, e que ela certamente adoraria. Eu queria muito ir com ela ao boliche, ao aniversário da minha avó, que tem estado muito mal e não lhe restam muitos, ao revéillon que eu pretendo passar na fazenda do meu melhor amigo e que as cinco da manha eu a acordaria de surpresa para tirar leite das vacas, acompanhados pelo caseiro das mãos docemente encardidas.
Mas ela tomou seu caminho contrário ao meu, e foi por besteira.
Eu não me arrependo de ter viajado com ela aquela vez, para Minas Gerais, e nem me envergonho de ter vomitado pela janela todo o vinho que eu ingeri por ser afobado. Eu só fico aflito em pensar em todas as viagens que eu programei no meu íntimo. Campos do Jordão, Gramado, Jalapão, Buenos Aires, Califórnia, Guaruja, Garopaba. Todas as pousadas cuidadas por um casal qualquer de aposentados contentes da vida, os albergues, os resorts, os motéis. Mas não existem mais viagens, e não existem por besteira.
Eu não me arrependo de ter sido inconveniente com piadas fora de hora, nem com as mazelas que eu usei me referindo aos ídolos dela, nem com a minha impaciência ao telefone. Eu me arrependo de não ter curtido com mais gosto todos esses pormenores. Mas esses pormenores agora são menores ainda, afinal, ela resolveu continuar sem mim, pautada numa besteira.
Não que eu queira diminuir tal "besteira", não é o caso. Talvez eu tenha que reajustar meus valores para admitir melhor o que é ou não perdoável, e assim poder medir melhor as consequências. E eu me proponho a enfrentar esse dilema, com qualquer força minha.
Por que?
É puramente por que o amor que eu mais depositei confianças me deixou, e de recordação eu tenho uma foto. Uma foto apenas. Sentados no caminho entre Ouro Preto e Mariana, num trem velho que me fez gelar de medo. E nós sorriamos, sorriamos com gosto, com uma inocência que eu sei que eu ainda guardo, e que posso transmitir a essa moça, com total dedicação. Uma foto apenas.
E aquela aliança que eu mais tive esperanças vai para o fundo da gaveta sem nem ter o nome dela gravado. Sem nem ter o seu nome gravado. E ela vai junto com aquela foto, aonde nós sorriamos no trem. Esse trem que agora, me leva sozinho, por conta de uma besteira.
domingo, 31 de outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Quase pressão alta.
Feita a digestão, depois de almoçar qualquer coisinha que a Vivi fez para mim, eu tomei meu rumo até a Auto Escola. Sim! Finalmente eu estou incluído nesse processo que sacramenta a minha esperada maioridade. Afinal, bebida, cigarro, pornografia eu já podia comprar, já podia ser preso, já podia votar, entrar em qualquer sessão de cinema, tudo! Mas dirigir tranquilamente, até completar 18 anos, é muito difícil. Ou muito perigoso.
Nesse dia, especificamente, eu ia fazer o exame médico.
Eu esperei cinco minutinhos, como é regrado em consultórios. Eu nunca entrei em um consultório que me encaminhasse da recepção direto para a sala do médico,nunca! Os cinco minutinhos sempre foram requisitados como que sendo um teste de paciência, ou um mero ato protocolar. E como eu tinha que esperar os cinco minutinhos, eu fui um bom "esperador", e fiz o que é digno de todos os "esperadores" que esperam em salas de espera pelo mundo todo: Abri uma revista antiga, com um imenso carimbo na capa, e fiquei lendo a legenda das fotos. É tudo que cinco minutinhos nos permitem fazer.
O médico não veio me chamar, a própria recepcionista me indicou a primeira sala a direita. O que era curioso, porque na parede da direita só havia uma sala. Enfim, obedeci submisso.
O médico olhou bem de perto o papel, e identificou meu nome. Aquele clima de um profissional que nem me conhece me examinando me da uma angustia sem igual, a sensação de que ele realmente não se importa se eu estou bem, nem pergunta como vai a familia, tampouco fala sobre a dele. Esses médicos que atendem qualquer um, e que não tem qualquer espécie de intimidade com o próprio consultório: nem um porta retrato, ou um porta canetas que o filho mais velho fez quando ainda era criança, ou uma pilha de livros que ele nunca leu, mas impressionam muito. Nada! Como se usasse a sala de outra pessoa que ele nunca conheceu.
Mas deixemos de lado minhas desconfianças emocionais. Ele não me convidou para sentar.
Exame de vista, reflexos, movimentos. Mostra a canela, encosta na ponta do nariz, outra mão, levanta a perna, agora a outra, leia isto pra mim, outro olho, leia a de baixo, pula flexionando os joelhos, pra dirigir vai ter que cortar esse cabelo.
Só ele falou, e muito. Isso tudo demorou mais ou menos um minuto e meio.
- Deixa o braço relaxado - e colocou um aparelinho de tirar pressão, um eletrônico, no meu punho. - Algum caso de pressão alta na família?
Eu respondi orgulhoso:
- Nada, doutor.
- Só você?
O que?! Eu não, rapaz! Que história é essa? Ele tomou um leve susto com minha surpresa, levou os óculos recostados na ponta do nariz até os olhos, e pegou aquele velho instrumento manual para se tirar a pressão. Aquele que ele aperta aquela pequena bexiga de ar, e nosso braço vai sendo esmagado por uma espécie de cinta. Com o estetoscópio ele acompanhou meus batimentos.
- Negativo, ta tudo certo.
Meu alivio foi instantâneo, como se tirassem uma bigorna de cima do meu pé.
- Você fez exercícios físicos antes de vir, filho?
- Vim andando para cá doutor.
- E antes?
Eu refleti, tentando me lembrar.
- Me masturbei.
Ele não se alterou, nem minimamente. Suas pálpebras ainda estavam caídas, os olhos baixos.
- Se masturbou e veio andando?
- Foi.
Pausa. Ele carimbou com força a minha ficha.
- Então ta dispensado.
Nesse dia, especificamente, eu ia fazer o exame médico.
Eu esperei cinco minutinhos, como é regrado em consultórios. Eu nunca entrei em um consultório que me encaminhasse da recepção direto para a sala do médico,nunca! Os cinco minutinhos sempre foram requisitados como que sendo um teste de paciência, ou um mero ato protocolar. E como eu tinha que esperar os cinco minutinhos, eu fui um bom "esperador", e fiz o que é digno de todos os "esperadores" que esperam em salas de espera pelo mundo todo: Abri uma revista antiga, com um imenso carimbo na capa, e fiquei lendo a legenda das fotos. É tudo que cinco minutinhos nos permitem fazer.
O médico não veio me chamar, a própria recepcionista me indicou a primeira sala a direita. O que era curioso, porque na parede da direita só havia uma sala. Enfim, obedeci submisso.
O médico olhou bem de perto o papel, e identificou meu nome. Aquele clima de um profissional que nem me conhece me examinando me da uma angustia sem igual, a sensação de que ele realmente não se importa se eu estou bem, nem pergunta como vai a familia, tampouco fala sobre a dele. Esses médicos que atendem qualquer um, e que não tem qualquer espécie de intimidade com o próprio consultório: nem um porta retrato, ou um porta canetas que o filho mais velho fez quando ainda era criança, ou uma pilha de livros que ele nunca leu, mas impressionam muito. Nada! Como se usasse a sala de outra pessoa que ele nunca conheceu.
Mas deixemos de lado minhas desconfianças emocionais. Ele não me convidou para sentar.
Exame de vista, reflexos, movimentos. Mostra a canela, encosta na ponta do nariz, outra mão, levanta a perna, agora a outra, leia isto pra mim, outro olho, leia a de baixo, pula flexionando os joelhos, pra dirigir vai ter que cortar esse cabelo.
Só ele falou, e muito. Isso tudo demorou mais ou menos um minuto e meio.
- Deixa o braço relaxado - e colocou um aparelinho de tirar pressão, um eletrônico, no meu punho. - Algum caso de pressão alta na família?
Eu respondi orgulhoso:
- Nada, doutor.
- Só você?
O que?! Eu não, rapaz! Que história é essa? Ele tomou um leve susto com minha surpresa, levou os óculos recostados na ponta do nariz até os olhos, e pegou aquele velho instrumento manual para se tirar a pressão. Aquele que ele aperta aquela pequena bexiga de ar, e nosso braço vai sendo esmagado por uma espécie de cinta. Com o estetoscópio ele acompanhou meus batimentos.
- Negativo, ta tudo certo.
Meu alivio foi instantâneo, como se tirassem uma bigorna de cima do meu pé.
- Você fez exercícios físicos antes de vir, filho?
- Vim andando para cá doutor.
- E antes?
Eu refleti, tentando me lembrar.
- Me masturbei.
Ele não se alterou, nem minimamente. Suas pálpebras ainda estavam caídas, os olhos baixos.
- Se masturbou e veio andando?
- Foi.
Pausa. Ele carimbou com força a minha ficha.
- Então ta dispensado.
sábado, 16 de outubro de 2010
Inventando lembraças.
Ela apertou o meu braço com força. Ela ria muito, batalhando para não rir, e ainda assim acabando-se em gargalhadas fartas, longas, daquelas que esvaziam os pulmões e se encerram com um longo suspiro de angustiada alegria. A angustia de quem ri das cócegas forçadas. Mas naquela hora não eram cócegas. Eu pisei com força no acelerador do carro, em ponto morto, só para fazer barulho. Só para assustar. E ela assustou mesmo, mas ria aquele riso de quem confia no outro apesar da cagada que está se fazendo.
Eram 3 da manhã, a avenida Brasil estava vazia, descontados alguns indigentes que fumavam crack numa rodinha, como um encontro de amigos, como fumar socialmente. O carro nem ia rapido, mas sem nenhum outro carro para servir de parâmetro, os postes que ficavam para trás davam a impressão de estarmos dentro duma nave. Ai que eu perguntei, enquanto ela acendia um careta. Sabe cantar o hino? Ela fez que sim com a cabeça. Eu abri o vidro do lado dela. Então canta.
Não hesitou nem um segundo.
Ela cantou o hino.
E eu fui em direção a rua Augusta para aborrecer umas prostitutas.
Eram 3 da manhã, a avenida Brasil estava vazia, descontados alguns indigentes que fumavam crack numa rodinha, como um encontro de amigos, como fumar socialmente. O carro nem ia rapido, mas sem nenhum outro carro para servir de parâmetro, os postes que ficavam para trás davam a impressão de estarmos dentro duma nave. Ai que eu perguntei, enquanto ela acendia um careta. Sabe cantar o hino? Ela fez que sim com a cabeça. Eu abri o vidro do lado dela. Então canta.
Não hesitou nem um segundo.
Ela cantou o hino.
E eu fui em direção a rua Augusta para aborrecer umas prostitutas.
Presente inédito
Eu procuro palavras bonitas
Pra contar pra você como é que me sinto
E na hora de desabafar
Eu fraquejo, gaguejo parece que minto
E você me olha curiosa
Esperando uma rosa e palavras de amor
O que eu tenho é uma bossa nova
E uns restos de flor
Eu ensaio uns versos manjados
Pra quem sabe até te impressionar
Ja ouviu de outros namorados
E ainda assim me convence chorar
Ja te leram tanta poesia famosa
Tantas flores foram as que você recebeu
Mas eu sei que uma bossa nova
Ninguem nunca te deu.
Um presente inédito para o meu amor maior, meu maior amor. A bossa nova da minha vida.
Pra contar pra você como é que me sinto
E na hora de desabafar
Eu fraquejo, gaguejo parece que minto
E você me olha curiosa
Esperando uma rosa e palavras de amor
O que eu tenho é uma bossa nova
E uns restos de flor
Eu ensaio uns versos manjados
Pra quem sabe até te impressionar
Ja ouviu de outros namorados
E ainda assim me convence chorar
Ja te leram tanta poesia famosa
Tantas flores foram as que você recebeu
Mas eu sei que uma bossa nova
Ninguem nunca te deu.
Um presente inédito para o meu amor maior, meu maior amor. A bossa nova da minha vida.
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