domingo, 13 de junho de 2010

Aonde foi que eu larguei aquele boné colorido?

Há quanto tempo eu não via um boné colorido? Eu mesmo tive uns, e ainda me lembro.
Meus pais me levavam na Fundação Oscar Americano, no Morumbi, perto do palácio. Poucas coisas me faziam tão contente. Árvores de todos os tipos, descendência e tamanhos. As mais ilustres árvores eram identificadas com pequenas placas, com nomes científicos que eu tentava insistentemente pronunciar. Também nas plaquinhas, eu me lembro que vinha o dado mais importante: a idade. E eu achava magnífico árvores centenárias! E tinha uma em especial que me fascinava. Não faço a mínima idéia do nome desta, e hoje provavelmente eu demoraria para encontrá-la, aliás, é mais provável que eu nem a encontre. Mas era majestosa, pomposa, imponente. E era centenária. Já na época eu imaginava quantas e quantas pessoas não haviam passado por lá. A árvore testemunhara de tudo, eu imaginava. Uns romances, ou o fim destes. Umas boas leituras. Imaginava também quantas urinadas! Hoje penso no sexo e nos baseados. Cem anos! Não é possível que a arvore não tenha ouvido uns bons gemidos. E umas longas risadas.
E hoje eu sinto falta desses momentos. Sinto mesmo! A molecada vai passear no Parque do Ibirapuera. Pois bem, é até divertido. Passeios de bicicleta, caminhadas e tudo mais. Mas não é a mesma coisa. É muito quiosque de sorvete, muita gente, uns carros, uns seguranças. Antro de drogas também. Você acha que não? Tenho certeza que sim. Não tem o mesmo romance, o mesmo clima, pacato, sereno. Eu me lembro do meu pai na Fundação. Lembro que ele lia uns livros enormes, sentado ali no meio das árvores, com as pernas cuidadosamente cruzadas, o livro cuidadosamente seguro em apenas uma mão. Enquanto eu passava a tarde ali, sonhando mil coisas. Em silêncio.
O meu desabafo é por que estou no parque Trianon. Faz algum tempo que a serenidade desse parque, que tangencia a caótica Avenida Paulista, tem me atraído quase que periodicamente. Resolvi pegar o metrô, e vim escrever sobre fidelidade partidária e as contradições da oposição. Chato né? Você não acha? Acha sim.
E foi agora a pouco que passou um garotinho por aqui. Mochila nas costas, uniforme do colégio. Passou rindo, o menino. Mas antes de cruzar comigo, bem antes, eu assisti o garoto parar no meio da larga passagem do parque, e saltar algumas vezes, tentando alcançar com as mãos um galho de uma árvore. Uma árvore cujo nome eu não faço a menor idéia qual é, mas que a beleza chama a atenção mesmo. Merece uma plaquinha.
Sem sucesso, o menino não fechou o sorriso e correu sei lá para onde. Não deu a menor importância por não ter alcançado o tal galho, que se punha muito mais alto do que ele poderia alcançar. Foi embora. De bonezinho colorido.
Por um instante eu me tomei de meninice.
Sei lá por que tive uma certeza. Naquele momento tive uma plena certeza.
Aquele menino era eu.

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