quinta-feira, 15 de julho de 2010

Senhor não! "Senhorzinho"

A genial idéia de ir ao estádio de futebol numa quarta feira, sete e meia da noite, no dia que, eu vim descobrir mais tarde, foi o mais frio do ano, foi do Eduardo. A ainda mais genial idéia de ir de ônibus, foi minha. Mas fomos! Embaixo de chuva.
Já reparou como todo mundo no ponto de ônibus sabe o que esta fazendo? Sabe para onde vai, como vai. Existe uma certeza inconfundível na expressão amena de todos no ponto de ônibus, tanto que nem me sinto a vontade pedindo informações. Mas não teve jeito, tive que pedir. E pedi ao primeiro, claramente convicto, rapaz que vi. E é claro que ele não teve duvida! Como poderia, alguém no ponto de ônibus ter duvida? De forma alguma! Ele me respondeu certeiro: “Paulo VI”.
Porra, ele não pensou nem um segundo. Reperguntei:
- Esse Paulo VI para na frente do estádio do Morumbi? – mas me arrependi imediatamente. Agora com tempo para pensar, ele quis dar o roteiro todo, explicou até alternativas. Eu concordei com tudo, deixando claro ter entendido. E nem precisava entender. Parando na frente do estádio tava ótimo!
Eis que, ao ver interrogações no ar, chega um “senhorzinho”. “Um” não! “O” senhorzinho. O artigo definido é mais adequado, afinal, mais peculiar do que aquele senhorzinho, é difícil de encontrar.
Veio se aproximando devagar. O cabelo bem branco. Branco como o cigarro seguro nos lábios. E deu um show de “como ser um senhorzinho”. Não era sério o bastante para ser “senhor”, nem antigo o bastante para ser “velinho”. Era simplesmente o típico “senhorzinho”. E eu saquei isso num instante. O que o denunciou logo de cara foi ele vindo dar uma de entendido. É incrível como todos, dessa respeitosa espécie dos “senhorzinhos”, adoram dar uma de entendidos. E eu adoro.
Não cumprimentou, nem nada. Mas com um ar de bom vovô, ele veio apontando para uma porção de lados, descrevendo caminhos que eu não entendia. Com a mão, ele gesticulava indicando curvas, subidas e descidas que eu nem sonhava onde ficavam, movimentando-se como um maestro. Também falou o nome de uns dois ônibus que eu não sonhava para onde iam. Eu só confirmei:
- O Paulo VI vai? – E ele falava e ressaltava, confirmando com a cabeça, para cima e para baixo.
- Vai! Claro! Eu também vou nele.
E eu parei um pouco de prestar atenção. Ele também se afastou um tanto, para fumar em paz seu cigarrinho. Comecei então a reparar no senhorzinho. Com um bonito, mas visualmente antigo paletó marrom, de um tecido estranho, de fios grossos. A camisa era também marrom, mas essa com estampa idêntica a de um antigo sofá, da antiga casa de minha avó. A gravata preta também era ilustrada com a mesma estampa. Brega. Elegante, mas brega. Estilo senhorzinho. Chegou o ônibus.
Lotado de gente. Gente saindo pelo ladrão! (meu sonho é saber o porque dessa expressão). O senhorzinho ficou na parte da frente do ônibus, perto do motorista, enquanto eu e o Du (com seus delicados 1,90m de altura) nos embrenhávamos por entre as pessoas até as proximidades da porta. Antes de sairmos, o senhorzinho ainda avisou que já era hora de descer, e acenou brevemente, e sorrindo bateu uma continência, assim como é digno de todos os “senhorzinhos”.
Depois da chuva, do frio, do transito, do ônibus lotado, da derrota do São Paulo para o majestoso Havaí, eu me pergunto: O que me valeu de tudo isso?
Uma apertada e deliciosa saudade daquele antigo sofá, da antiga casa da minha avó, aonde passei tanto da minha infância. E uma confortável e emocionante sensação de que jamais vou esquecê-lo.



Ps. não suportei a curiosidade. (Nem sustentei a ignorância)
Ladrão é o escoadouro de barragens e caixas d'água por onde a água escoa automaticamente quando o nível atinge um certo limite de segurança.
Quando se diz que algo está "saindo pelo ladrão" significa que algo está tão cheio ou existe em tanta fartura que está "botando pra fora" aquilo que está excedente.

sábado, 3 de julho de 2010

Poeminha de criança

Se o primeiro homem que viu uma laranja
Por qualquer motivo, abrisse ela
Essa, não se chamaria então "laranja"
Chamaria-se "Amarela"!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Poeminha sem sobrenome

Brevemente, para meu amigo Pessoa


"Por vezes penso que o sobrenome não mente
(e neste caso, minha desvantagem é indiscreta)
Oras! Meu sobrenome é de presidente
O seu, amigo, é de poeta!"



Um grande beijo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Lembrei de Vinicius

O poeta que me perdoe.

Para viver um grande amor é preciso querer estar junto, e ainda que separados, ser um conjunto, para viver um grande amor. É preciso querer mais que só o gozo - se não, fica o amor ocioso – sem fervor. É preciso ser fértil mas amistoso, ser objetivo porém cauteloso, para viver um grande amor.
Ajuda ser bom conhecedor da noite, afora os bares, um bom bistrô. Elegante é saber ser moderno, e na certa ocasião não arrisque, opte por um terno – de veludo para o inverno! – para cobrir seu grande amor. Tem que ser discreto o ciúme, (claro, o doentio nunca se assume), e se não tem ciúme: arrume! Para proteger o seu amor.
Não se esqueça jamais de manter sempre em vista, a dedicação dos tempos da conquista, para a amada saber sempre que exista as novidades e as ternuras do primeiro amor. Não te faz mal algum estar, por vezes, a paisana, e para surpreende-la é tiro e queda: uma só rosa – rosa colombiana – para viver um grande amor.
Claro, tem que saber fazer caipirinha, (mas beber sem perder a linha), e ter boa mão na cozinha, para agradar o seu amor. É também precavido, e é bem indicado, ter sempre um bom vinho guardado, (suave, chileno), para acompanhar o que com cuidado se prepara para servir o amor. Durante o preparo, não menospreze ajuda, não é nunca bom a amada muda, pode turvar um pouco o amor. Para mostrar delicadeza, é elementar, não deixar nunca que ela tire a mesa, e mantenha sempre uma vela acesa, uma chama que é pra dar calor! Pois é de chama que deve estar repleto, esse vão que você faz completo, essa luz entre você e o amor.
Além da boa gastronomia, é necessário saber – nem que o mínimo – de astronomia, afinal, qual mais bela poesia pode haver que a do céu para o amor? Não é difícil identificar o amor, mas sim vive-lo, pois a “boca na boca”, o “pêlo no pêlo”, é coisa rasa, de amador. Pode ser breve, mas sempre terno, seu grande amor. E embora esse parta em boa hora, que vá embora sentindo, que para o resto da vida pode ser bom amigo, mas que em certo instante foi um infinito – um grande amor!
Para viver um grande amor, não há lá grande segredo, é importante se entregar sem medo, sem esconder jamais seus vícios, e se necessário, imitar Vinicius. Para viver um grande amor.